Na
História Universal, designa-se por romanização o processo cultural resultante das invasões do
Império Romano na
Europa,
Ásia e
África. Naturalmente, uma das influências foi nas
línguas faladas nessas regiões, embora a
arquitectura romana também tenha desempenhado um papel fundamental na sua maneira de construir, notabilizando-se, por isso, na
História da Arquitectura.
A invasão romana da península Ibérica iniciou-se no contexto da
Segunda Guerra Púnica (
218 a.C.-
201 a.C.), quando as
legiões romanas, sob o comando do cônsul
Cneio Cornélio Cipião, para ali se movimentaram taticamente, a fim de atacar pela retaguarda os domínios de
Cartago na região.
De facto, a influência cartaginesa na
península Ibérica permitia um expressivo reforço, tanto de suprimentos quanto de homens, a Cartago. A estratégia do
Senado romano visava, desse modo, a enfraquecer as forças cartaginesas, afastando os seus exércitos da
península Itálica.
O primeiro combate importante entre Cartagineses e
Romanos ocorreu em
Cissa (218 a.C.), provavelmente próximo a
Tarraco, embora os historiadores tenham tentado identificá-la com
Guissona, na actual
província de Lérida. Os Cartagineses, a mando de
Hannon, foram derrotados pelas
forças romanas a mando do próprio Cneio Cipião. O caudilho dos
Ilergetes,
Indíbil, que combatia aliado aos Cartagineses, terá sido então capturado. Não obstante, quando a vitória de Cneio parecia concretizada, acudiu
Asdrúbal Barca, com reforços, que dispersaram os romanos sem, no entanto, os derrotar. Assim, as forças opostas regressavam às suas bases militares — os Cartagineses a
Cartago Nova (actual
Cartagena) e os Romanos a
Tarraco — e já só no ano seguinte a frota de Cenio Cipião venceu Asdrúbal Barca na boca do
rio Ebro. Pouco depois chegaram reforços de
Itália dirigidos por
Públio Cipião, permitindo o avanço dos Romanos em direcção a
Sagunto.
Atribui-se a Cneio e Públio a fortificação de Tarraco e o estabelecimento de um porto militar. A muralha da cidade foi provavelmente construída sobre a anterior muralha ciclópica, já que nela se observam algumas marcas de trabalho da pedra tipicamente
ibéricas.
Ainda no ano de
216 a.C. há registo de combates entre Cneio e Públio contra os
iberos, provavelmente de tribos a Sul do
rio Ebro, embora sem grandes consequências para Roma. Já no ano seguinte, receberam os Cartagineses reforços, encabeçados por
Himilcão, dando-se novo combate nas bocas do Ebro, segundo parece, próximo de
Amposta ou
Sant Carles, naquela que ficou conhecida como a
batalha de Hibera, ou Ibera. Para prejuízo de Cartago, deste confronto saíram os Romanos vencedores.
A rebelião de
Sifax em
214 a.C., aliado de Roma, na
Numídia (
Argel e
Orán) obrigaria Asdrúbal a regressar a África com as suas melhores tropas, deixando o caminho livre para a progressão romana. Asdrúbal Barca, já em África, conseguiria o apoio de
Gala, um outro rei
númida, senhor da região de
Constantina e, com a ajuda deste (e do seu filho,
Massinissa), conseguindo a derrota de Sifax. Regressou em
211 a.C. à península fazendo-se acompanhar de Massinissa e os seus guerreiros númidas.
Algures entre
214 e
211 a.C., Cneio e Público regressaram ao Ebro. Sabe-se que em
211 a.C. os Cipiões incluíam no seu exército um forte contingente de milhares de mercenários
celtiberos. Estes actuavam, frequentemente, como soldados de fortuna.
As forças cartaginesas estruturaram-se em três exércitos, comandados respectivamente pelos irmãos Barca (
Asdrúbal e
Magão) e ainda por outro
Asdrúbal, filho do comandante cartaginês
Aníbal Giscão, morto durante a
Primeira Guerra Púnica. Do lado oposto, os romanos organizaram-se em três grupos, comandados por Cneio, Públio, e ainda por
Tito Fonteio. Asdrúbal Giscão e Magão Barca, apoiados pelo númida Massinissa, conseguem derrotar Públio Cipião, matando-o. Cneio Cipião, em pleno combate a 211 a.C., assiste à
deserção dos mercenários celtiberos — a quem Asdrúbal Barca ofereceu uma soma maior daquela paga por Roma — e é obrigado a retirar-se. Faleceu durante a retirada, deixando os Cartagineses aptos a atravessar o
rio Ebro, que só puderam ser contidos graças à intervenção de
Gaio Márcio Séptimo, eleito como general pelas tropas. O cenário destes combates é, porém, incerto, embora sabendo-se que
Indíbil combatia novamente do lado dos cartagineses.
Cipião, o Africano.
No ano seguinte,
210 a.C., foi enviada uma expedição dirigida por
Cláudio Nerão com vista à captura de Asdrúbal Barca. Não obstante, Cláudio traiu a sua palavra e fugiu desonrosamente. O Senado insistiu, e enviou novo exército ao rio Ebro, para conter o avanço das tropas cartaginesas em direcção à Itália. O líder desta nova força foi o célebre
Cipião Africano, filho do general homónimo, morto em combate em 211 a.C. Cipião fazia-se acompanhar do
pró-consul Marco Silano (que deveria suceder a Cláudio Nerão) e do conselheiro,
Caio Lelio, chefe de esquadra. À sua chegada, os exércitos cartagineses encontravam-se instalados da seguinte forma: aquele dirigido por Asdrúbal Barca encontrava-se próximo da
nascente do
rio Tejo; o exército de Asdrúbal Giscão na região da futura
Lusitânia, próximo à actual cidade de
Lisboa; o exército de Magão encontrava-se na zona do
estreito de Gibraltar. Cipião, aparentemente desprezando a importância da região do Ebro, atacou directamente
Cartago Nova por terra e por mar. A capital púnica peninsular, cuja guarnição, insuficiente, era dirigida por outro
Magão, foi obrigada a ceder, sendo ocupada pelos Romanos. Rapidamente, retornou Cipião a Tarraco antes que Asdrúbal atingisse as desguarnecidas linhas do Ebro.
Esta operação marcou o início da submissão de grande parte da
Hispânia Ulterior. Cipião soube convencer vários caudilhos ibéricos, até então aliados a Cartago, como
Edecão (inimizado com Cartago desde que a sua mulher e filhos foram tomados como reféns), Indíbel (pela mesma razão), e
Mandónio (declarado inimigo por Asdrúbal Barca).
No Inverno de
209 a
208, Cipião avançou em direcção a Sul, chocando com o exército de Asdrúbal Barca (que, por sua vez, se deslocava para Norte), próximo a
Santo Tomé (
Jaén), na aldeia de
Baecula, onde decorreu a
batalha de Baecula. Não obstante Cipião reclamar para si a vitória, que permanece por confirmar, o facto é que Asdrúbal Barca prosseguiu o avanço em direcção ao Norte com a maior parte das suas tropas, atingindo o sopé das montanhas dos
Pirenéus. Sabe-se que, desta forma, Asdrúbal cruzou os Pirinéus passando pelo
região basca, provavelmente na tentativa de conseguir uma aliança com estes embora, em todo o caso, os bascos não dispusessem de grandes meios de oposição faze à força cartaginesa. Asdrúbal acamparia no Sul da
Gália entrando na
Itália em
209 a.C.. No ano seguinte Magão transladou as suas tropas para as
Baleares e Asdrúbal Giscão manteve-se na Lusitânia.
Em
207 a.C., reorganizados os cartagineses e com novos reforços procedentes da África e dirigos por
Hannon, conseguiram recuperar a maior parte do Sul da península. Após a submissão desta zona por Hannon, uniu-se Asdrúbal Giscão na região, e Magão regressou à península. Pouco depois, as forças de Hannon e Magão foram derrotadas pelo exército romano a mando de
Marco Silano, de onde resultou a captura de Hannon e a retirada de Giscão e Magão para as principais praças-fortes até receberem novos reforços desde África (
206 a.C.). Entretanto recrutaram contingenes de indígenas e confrontaram-se com os Romanos na
batalha de Ilipa (na zona da actual
Alcalá del Río), na
província de Sevilha. Nesta batalha vence Cipião sem sombra de dúvida, obrigando nova retirada de Magão e Asdrúbal para
Gades. Cipião tornara-se assim dono de todo o sul peninsular, e pôde cruzar a África onde se encontrou com o rei númida Sifax, que já o havia visitado na
Hispânia.
Aproveitando uma convalescença de Cipião, algumas unidades do exército aproveitaram-se para amotinar-se exigindo os salários em atraso; por sua vez, a oportunidade foi aproveitada pelos Ilergetes (a mando de Indíbil) e pelos
Ausetanos (a mando de
Mandónio) que iniciariam uma rebelião dirigida, sobretudo, aos
pró-cônsules L. Lentulo e
L. Manlio. Cipião soube conter o motim, colocando um ponto final na revolta dos ibéricos. Mandónio foi preso e executado (
205 a.C.), mas Indíbil conseguiu escapar.
Magão e Asdrúbal abandonaram Gades com todos os seus barcos e tropas para acudir a Aníbal, já em Itália. Roma tornava-se assim senhora de todo o Sul da Hispânia, desde os
Pirenéus ao
Algarve, no seguimento da costa e, para o interior, de
Huesca em direcção ao Sul até ao
rio Ebro e para Este em direcção ao mar. A partir de então, iniciou-se a administração romana da península, inicialmente com o caráter de ocupação militar, com o fim de manutenção da ordem e de exploração dos recursos naturais das regiões ocupadas, doravante integradas no território controlado pela República. Assim, a porção ocupada ficava desde já dividida em duas províncias: a
Citerior, a Norte, e
Ulterior, a Sul, com capital em
Córdoba. A administração ficava incumbida a dois
pretores bianuais que, de resto, nem sempre se cumpria.